sexta-feira, 16 de abril de 2010

Notícia das Favelas

Carlos Diegues

O noticiário da imprensa, do rádio e da televisão, obrigado a cobrir os acontecimentos mais espetaculares, dá destaque constante à violência nas favelas do Rio de Janeiro, provocada por minorias armadas, sejam elas de traficantes ou milicianos. Não adianta repetir que essas minorias são numericamente insignificantes se comparadas à população de trabalhadores naquelas comunidades. O estereótipo aparece revigorado no material de ficção que vemos em filmes e séries, nacionais ou estrangeiros.

Nesses gigantescos guetos proletários, onde uma pequena classe média surgida nas duas últimas décadas começa a crescer e a se organizar, uma nova produção cultural está florescendo sem que o resto do mundo se dê muito conta, embora o país já esteja contagiado por ela na música, na linguagem e nos costumes. E essa é uma cultura que não é apenas do gueto, mas também de nosso tempo.

Os jovens das favelas cariocas formam uma nova geração que rompeu com os estereótipos de que é vítima e também com o conformismo que sempre relegou os moradores dessas comunidades a uma sombra de cidadãos de segunda classe, fantasmas sociais assombrando o sono dos ricos.

Desde 1993, quando tivemos o primeiro contato com organizações culturais nascidas nessas comunidades, temos acompanhado o progresso dos jovens cineastas moradores de favelas, produzindo curtas com mini-DVs, pequenas câmeras digitais domésticas, editados em programas acessíveis na grande rede. Esses filmes são vistos entre eles mesmos, circulando de um núcleo comunitário a outro, raramente vencendo a barreira do gueto.

Foi com o impulso de dar visibilidade a esses talentos que imaginamos o projeto Cinco vezes favela. Nele, esses jovens cineastas se tornam portavozes deles mesmos, testemunhando sobre suas próprias vidas e sentimentos, nos dizendo quem realmente são, construindo sua identidade muito além dos estereótipos que criamos para eles. E, ao mesmo tempo, contribuindo de maneira decisiva para a evolução do cinema brasileiro, num estágio tão rico e promissor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário